Já conversei com muitos pais que têm uma reclamação em comum, mesmo tendo eles filhos com idades diferentes. Da primeira infância até a juventude, esses filhos costumam ser atenciosos, cordiais e até mesmo gentis com os amigos, alguns parentes e conhecidos próximos da família. Entretanto, quando a questão é a relação entre eles e seus pais, a coisa muda. E para pior!
Aí eles se tornam malcriados e agressivos, segundo esses pais. "Não deveria ser exatamente o oposto disso?", me perguntou uma mãe. Uma outra foi mais enfática: "Eles –os filhos– precisam perceber que, se há pessoas no mundo merecedoras de toda a sua atenção, carinho e boa educação no trato, essas pessoas são os seus pais.".
O que será que ocorre nessas situações? Falta de investimento para que eles aprendessem a se relacionar bem com os outros não foi, já que eles demonstram saber aplicar os ensinamentos que receberam nesse sentido em diversas situações. Até pode ser que tenham aprendido a se relacionar socialmente sozinhos, mas que eles sabem como fazer, eles sabem. Por que será que eles miram nos pais para descarregar suas emoções agressivas e se esquecem das lições da boa convivência nesse relacionamento?
Bem, não podemos nos esquecer de que a intimidade é cruel nesse sentido: quanto mais intimidade temos com as pessoas, mais soltamos as feras que moram enjauladas dentro de nós. Esse é um dos motivos geradores das maiores dificuldades no casamento: a intimidade é avassaladora. Talvez por isso tem sido muito mais sedutor e encantador namorar do que buscar permanecer casado, não é mesmo?
Pois a relação entre pais e filhos é assim: um mar imenso de intimidade que afoga quase todas as gentilezas e cordialidades que eles sabem usar. Mas, caro leitor, é bom não se esquecer de que não são apenas os filhos que sucumbem à intimidade na relação com seus pais. Os mais novos também conhecem o lado grosseiro, arrogante, agressivo, chato e bravo de seus pais.
Mas há uma outra questão que ajuda muito nessa história e de que os pais não costumam se dar conta. Para que uma criança ou jovem tenha a companhia de um amigo em atividades de seu interesse, receba carinhos e mimos especiais dos parentes e passe uma boa imagem de si aos conhecidos da família, sabe que é preciso tratá-los bem, agradá-los. Essa é a ideia dos mais novos, e ela tem fundamento.
Uma criança vai escolher a companhia de outra que a agrade ou de uma que aja de modo indiferente em relação a ela? Um parente vai se esmerar na escolha de um mimo para dar aos mais novos da família que são agressivos ou aos carinhosos?
E com os pais? Ah, em geral crianças e jovens não precisam agradar os pais para ter, deles, algo a mais do que precisam dar: atenção e carinho o tempo todo e todos os pedidos atendidos, por exemplo. Aliás, muitas coisas eles ganham antes mesmo de pedi-las aos pais. Não é à toa que o castigo mais popular hoje em dia seja o de tirar do filho alguma regalia: é que ele já tem todas.
Mesmo com a intimidade atrapalhando, os filhos precisam aprender que o relacionamento com os pais exige reciprocidade para uma boa manutenção. Mas eles só aprenderão isso se receberem as lições necessárias para entender que qualquer relacionamento exige compromisso de ambas as partes.
Fonte: Uol o Melhor conteúdo
29/07/2015
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Por que filhos são dóceis com amigos e agressivos com pais?
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